Sunday 23 August 2009

Áugures, ciência política, pura atenção

"A ciência do augúrio não era, evidentemente, uma ciência exacta. Mas era tão exacta quanto hoje são as ciências da psicologia e da economia política. Os áugures eram, no minimo, tão hábeis como os nossos políticos, que deveriam practicar também a adivinhação, se é que são alguma vez capazes de algo que não desmereça esse nome. Não há outra via, quando é da vida que se trata. E se vivemos no cosmos, é no cosmos que devemos encontrar a chave. Se se vive em função de um deus personalizado, ora-se-lhe. Se se é racional, vê-se tudo através do pensamento. ao fim e ao cabo, porém, tudo vai dar ao mesmo. A oração, o pensamento, o estudo das estrelas, a observação do voo dos pássaros, o estudo das entranhas sacrificiais, tudo faz parte, em última análise, do mesmo processo: a adivinhação. Aquilo de que todas essas coisas dependem é do grau de concentração verdadeira, sincera, religiosa, aplicada a cada objecto. E, se formos capazes de um gesto de pura atenção, extrairemos dele a resposta. Toda e qualquer descoberta alguma vez realizada, toda e qualquer decisão significativa tomada seriamente, foi atingida através da arte da adivinhação. O espírito move-se e, num acto de pura atenção, produz uma descoberta. A ciência do áugure e do arúspice não era tão ridícula como a moderna ciência da economia política."

D.H. Lawrence in Lugares Etruscos